Um pedaço da produção fotográfica brasileira pulsa, caminha no sentido da verdade angustiante que muitas vezes é distorcida pelos meios de comunicação convencionais, pela política equivocada, por interesses. Parte dos trabalhos mais interessantes têm chegado de coletivos como Trëma, R.U.A. Foto Coletivo, Rolê, Nitro Imagem e, mais recentemente, da Angústia Photo, o mais jovem deles. Angústia é sinistra e ainda pouco percebida. Formada por 4 fotógrafos, Fabricio Brambatti, Gabriel Bianchini, Tommaso Protti e Raul Arantes, durante o sábado da Foto Feira Cavalete no MIS, na primeira experiência do grupo com venda direta para o público, voltaram para casa com quase 60 prints a menos nas pastas, número surpreendente pelo tema forte dos trabalhos, e intrigante pelo conceito do ‘pague quanto acha que vale’.

Angústia não é um coletivo, mas uma agência, como se denomimam. Formada há menos de um ano, os 4 autores vêm produzindo uma fotografia poderosa sobre a vida louca nas ruas e já recebeu duas menções essenciais nesses poucos meses de atividade de dois importantes disseminadores globais de informação. A primeira veio da Magnum Photos, na escolha do júri do Photograpy Awards com a série de Protti sobre a superlotação nas prisões brasileiras. Depois, um primeiro lugar no concorrido Street Photography Awards, do Lens Culture.

O corpo de trabalho dos 4 integrantes da Angústia orbita da publicidade não tradicional ao trampo autoral realizado em regiões gentrificadas e complexas em qualquer parte do mundo. O conjunto da obra apresenta repertório e a formação distintos dos autores, se encaixa maravilhosamente. Fabricio Brambatti e Gabriel Bianchini são publicitários, rueiros e analógicos na fotografia. Tommaso Protti é romano e está baseado em SP há dois anos depois de ter vivido em Londres e Turquia, sempre em campo no Oriente Médio para jornais como o The New York Times e Le Monde, e agências internacionais. Raul Arantes, é o quarto elemento, vive em Hong Kong e, pela página da agencia vê-se que discute o asfalto com a mesma perspicácia e estética, com o mesmo sentimento que os outros 3 parceiros, com os olhos no que as pessoas não conhecem ou não querem conhecer. ‘Angústia procura poesia onde só existe rotina, trabalha a imagem que não tem intenção de ser o ponto final’, definem.

Abaixo, trechos de uma conversa com Fabricio, Gabriel e Tommaso na DOC Galeria. [FCN]

Nascemos em dois, Gabriel e eu [Fabricio]. Então chamamos o Raul e, na sequência, o Tommaso. Estamos trabalhando para ser uma agencia de 6 fotógrafos.

A ideia não é fazer trabalhos parecidos, a gente não é um coletivo, a ideia é criar uma estrutura para que a gente desenvolva o nosso trabalho pessoal. Queremos criar um ambiente para incentivo à fotografia, uma base para os fotógrafos trabalharem individualmente. O objetivo da Angústia é um trabalho forte na publicidade para que isso fortaleça todo o resto, individualmente.

Esse premio da Magnum foi muito importante para mim. Fui selecionado entre milhares de outros fotógrafos do mundo. [Tommaso Protti sobre seu prêmio no Photography Awards]

A Angústia tem uma estética predominante de fotografia de rua. Ano passado muitos trabalhos com essa estética foram premiados. O que enviei para o Lens Culture era diferente, confundiu o júri e me falaram que causou uma discussão interna grande. [Fabricio Brambatti sobre o Street Photography Awards / Lens Culture]

Temos dois projetos em andamento. Um trabalho aqui no Brasil sobre a caça de javalis, que está em fase de estudo. Fabricio e eu [Gabriel] estamos avaliando. O outro é um livro sobre São Paulo, autoria de nós três.

No nosso trabalho individual procuramos imprimir o mesmo pensamento e propósito.

No instagram: @angustia.photo; @ursomorto; @7pele; @tomprotti