No dia 5 de novembro de 2015, em 11 minutos, um tsunami de 62 milhões de metros cúbicos de lama aniquilou Bento Rodrigues, no município mineiro de Mariana. A destruição e seus efeitos se espalharam para outras cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo atingindo mais de 35 municípios. No próximo sábado, dia 5, exatamente um ano depois, os fotógrafos Aline Lata, Avener Prado, Gabriel Lordello, Gustavo Miranda, Helena Wolfenson, Leonardo Merçon, Mauricio Simonetti, o artista multimídia Tadeu Jungle e o organizador desta coletiva, o também fotógrafo Bruno Miranda, apresentam trabalhos feitos nos arredores e tocam um sino em homenagem às vítimas da tragédia que nunca deveria ter acontecido.

DE REGÊNCIA A MARIANA
Bruno Miranda

A intenção dessa coletiva é desconstruir a narrativa hegemônica dos meios de comunicação, que insistem em rotular de “tragédia de Mariana” o maior crime ambiental praticado em solo brasileiro.

O epicentro do evento foi no distrito de Bento Rodrigues, mas a destruição e seus efeitos se espalharam para outras cidades de Minas Gerais como Resplendor e Governador Valadares, e do Espírito Santo como Colatina, Regência, Baixo Guandu. Além desses locais, outros 33 municípios foram atingidos de forma direta pelo acontecimento.

Localizar a tragédia na cidade mineira é uma estratégia discursiva para reduzir os seus impactos, a partir do não reconhecimento da dimensão de seus estragos. Por conta da visibilidade internacional atribuída a Mariana, recursos dos quatro cantos do planeta chegaram à histórica cidade mineira. O conglomerado Samarco/Vale/BHP assistiu as famílias atingidas do município por conta da presença constante da mídia. E os outros 663km de extensão do rio até desembocar no mar capixaba? São mais de 500 mil pessoas atingidas de forma direta que perderam uma guerra na qual nem sabiam que iriam lutar. Pela distância que se encontravam de Bento Rodrigues, não imaginavam a possibilidade de se tornarem atingidas pela mineração.

Neste território, em contato direto com os rios, também estão a área protegida dos índios Krenak, três Unidades de Conservação de Proteção Integral e seis Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Seria razoável pensar que a empresa responsável tivesse algum tipo de prejuízo nos primeiros dois trimestres do ano, por conta de indenizações e afins aos atingidos. Mas, depois de tudo isso, somente nos primeiros oito meses do ano, o lucro foi de R$$ 9,89 bilhões de reais.

Diante dessa realidade, mais do que um único ensaio fotográfico, queremos apresentar por meio das fotos aqui reunidas, a necessidade do não esquecimento. Para tanto, direcionamos o foco aos atingidos, aqueles mantidos, pela crescente invisibilidade midiática, num universo lamacento: um perigo para a informação, para os indivíduos e cidades atingidas, e mais ainda para a sociedade, sujeita aos mandos e desmandos dos indicadores econômicos e da [des] informação.